A política perversa: O labirinto da subjugação silenciosa

Por Wellingthon Anunpciação

Há uma forma de perversidade na política que não se impõe pelo grito, mas pelo silêncio calculado. Não é feita de confrontos estridentes ou embates explícitos, mas de uma sutileza que enreda, confunde e submete. É uma política que opera com luvas de veludo, mas cuja força invisível deixa marcas profundas. O mais cruel dessa dinâmica é que, muitas vezes, a vítima não só é levada ao abate, mas constrói com suas próprias mãos o caminho que a leva ao labirinto.

Pensemos no mito do Minotauro: o monstro que habita o labirinto, alimentado por vítimas oferecidas por uma cidade impotente diante de sua ameaça. Na política perversa, não há necessidade de correntes ou grilhões evidentes. A própria estrutura é o labirinto. Cada política pública mal desenhada, cada prioridade invertida, cada discurso envolto em meias-verdades e apelos vazios, são as vielas que levam ao centro do emaranhado. E ali, no âmago desse sistema perverso, jaz o Minotauro: a indiferença, a desigualdade, a perpetuação de privilégios.

O mais cruel nessa política é o perfume do sândalo, que perfuma o machado que o fere. A retórica bem elaborada, os projetos que dão com uma mão e retiram com a outra, e as iniciativas que simulam inclusão mas reforçam exclusão – tudo isso embriaga a vítima e a faz acreditar que o golpe foi, de alguma forma, necessário. Afinal, como questionar algo que aparenta ser tão benevolente?

Mas é importante perguntar: quem são os responsáveis por essa lógica? Será que todos nós, enquanto sociedade, não contribuímos para o fortalecimento desse labirinto? Talvez por apatia, talvez por desinformação, talvez por cansaço. E, nesse processo, criamos armadilhas para nós mesmos, onde o monstro cresce e se fortalece à custa das nossas próprias concessões.

Precisamos de líderes que sejam Teseus, não Minotauros. Líderes que não só ousem enfrentar o monstro, mas que também carreguem consigo o fio de Ariadne – aquele que não apenas aponta o caminho de volta, mas que simboliza uma verdade lúcida e justa. Teseu não é apenas um herói; ele é o antídoto para o ciclo vicioso da política perversa. Ele representa a coragem de olhar além das aparências, de desmantelar as vielas e abrir caminhos verdadeiramente democráticos e inclusivos.

A questão, no entanto, persiste: estamos prontos para reconhecer esses Teseus? Ou ainda estamos tão perdidos no labirinto que nos acostumamos ao cheiro do sândalo, mesmo sabendo que ele mascara o golpe?

É uma reflexão que devemos levar adiante, porque a política perversa não grita, mas seu silêncio é ensurdecedor. E se não ouvirmos o eco desse silêncio, continuaremos construindo labirintos onde o Minotauro nos espera, nos engole, rumina-nos e nos espera, nos engole…

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