Mais uma evidência juntada ao inquérito que apura a morte da médica Sabrina Nominato Fernandes Villela, 37 anos, pode afastar a tese de suicídio. Peritos do Instituto de Criminalística (IC), da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), encontraram vestígios de sangue no tecido que revestia o banco traseiro do veículo do então companheiro da profissional de saúde, o personal trainer André Reis Villela, 41.
Sabrina foi encontrada sem vida por André Reis na cama do casal, na tarde de 10 de outubro de 2020, em um condomínio do Altiplano Leste.
O laudo do IC concluiu que foram detectados indícios químicos que sugerem a presença de sangue no material examinado. O pedaço de tecido foi extraído do carro que, à época, era utilizado pelo ex-marido de Sabrina. No entanto, os exames ainda não apontaram se o sangue, de fato, era da médica.
O laudo chegou a mencionar a hipótese de acidente, o que foi descartado pela advogada Sofia Coelho, que representa a médica, com base em outros indícios das perícias feitas até o momento. “Não tem como uma pessoa sofrer asfixia por sufocação direta de forma acidental, sozinha, sem qualquer restrição ao seu movimento. Ela teria de estar praticamente em coma, com abolição dos reflexos. Outros quesitos ainda serão respondidos pela perícia e, certamente, irão excluir essa hipótese de acidente, que é altamente improvável”, avalia a advogada.
Sob as unhas
Análises de um dos laudos periciais da Polícia Técnica juntados ao inquérito policial demonstraram que o DNA encontrado sob as unhas das mãos da vítima é compatível com o de Villela. Outro laudo mostrou que Sabrina foi vítima de asfixia por sufocação direta intencional, afastando, assim, a possibilidade de a morte ter ocorrido por ingestão de álcool com remédios. “Todas as provas até agora apontam que Sabrina não morreu de forma acidental”, ressaltou a advogada.
Nos primeiros laudos, os peritos médicos descartaram morte por uso de álcool e antidepressivos. A faixa de alcoolemia estimada para o caso estaria em níveis capazes de causar alterações como ataxia (alteração na marcha), diminuição de reflexos, atividade verbal acelerada, verborragia, porém, ainda distante de níveis que colocassem a vida da médica em risco, ainda mais considerando que os relatos são de que Sabrina tinha o costume de ingerir bebidas alcoólicas e essas manifestações variam conforme a “tolerância do paciente”.
O laudo aponta que a ingestão concomitante de álcool com o medicamento Zolpidem não é indicada e é vista como perigosa por aumentar os efeitos colaterais e a tolerância do indivíduo. Essa associação pode diminuir a dose tóxica do remédio.
De acordo com o laudo, teria sido localizada apenas uma caixa do remédio na residência do casal, afastando, assim, a ideia de que Sabrina teria tomado uma dose muito alta do medicamento. “O laudo de local ainda não foi juntado no inquérito, apesar de já ter sido solicitado algumas vezes para a autoridade policial. Segundo a defesa, o documento poderá esclarecer dúvidas em relação ao ocorrido”, disse a advogada Sofia Coelho.
O caso
Recheado de perguntas que ainda precisam ser respondidas, o inquérito traz à tona depoimentos que demonstram relação supostamente abusiva entre Sabrina e o marido. Casados há seis anos, os dois viviam em uma propriedade alugada, no condomínio Mini Chácaras, no Altiplano Leste.
Sabrina estava de bruços, com o rosto contra um dos travesseiros, em uma posição que provoca asfixia. Roxa e com o corpo enrijecido, estava coberta e já sem vida. Uma ambulância do Corpo de Bombeiros foi acionada pelo personal trainer. Logo em seguida, a equipe de socorristas confirmou o óbito. A Polícia Civil foi chamada pelo porteiro do condomínio somente por volta das 16h.
Depoimento do personal
Acompanhado de um advogado, o personal trainer prestou depoimento na delegacia horas após o corpo da cardiologista ter sido encontrado. Villela afirmou que, no dia anterior à morte da mulher, o casal havia participado do aniversário de uma amiga, em um restaurante na QI 5 do Lago Sul, entre as 14h e as 19h. Em seguida, foram para um bar, na 202 Sul, onde Sabrina teria ingerido muita bebida alcoólica.
O marido relatou em depoimento que Sabrina fazia uso diário de remédios para dormir. A médica tomaria até cinco comprimidos de uma vez e, em função disso, chegava a urinar na cama com regularidade, o que o deixava irritado. O personal trainer contou aos policiais que a esposa apresentava sinais de depressão e já havia sofrido dois abortos espontâneos. Na mesma oitiva, ele disse nunca ter visto a mulher falar sobre tirar a própria vida.
A reportagem não conseguiu localizar André Reis por meio dos contatos disponíveis no inquérito policial. O espaço permanece aberto para eventuais manifestações.
Fonte: Metrópoles