Associação foi procurada, mas não houve retorno até a publicação desta matéria
Os associados ao Afoxé Filhos de Gandhy foram surpreendidos com um comunicado polêmico nesta segunda-feira (24). Às vésperas do Carnaval de Salvador, o afoxé informou que apenas pessoas do sexo masculino cisgênero poderão desfilar no desfile carnavalesco deste ano.
O comunicado, que foi divulgado pelo site Dois Terços, diz que “de acordo com o artigo 5º do Estatuto Social, só poderão ingressar na associação pessoas do sexo masculino, cisgênero. Por isso, a venda do passaporte será apenas para esse público”.
A reportagem tentou contato com o afoxé por meio de assessoria, mas não houve retorno até a publicação desta matéria.
A decisão do afoxé foi criticada por pesquisadores e foliões que desfilam no bloco. “É preciso lembrar que o Supremo Tribunal Federal (STF) equiparou as ofensas a pessoas LGBT ao crime de racismo, em 2023. (…) É lamentável que o Afoxé tenha desconhecimento sobre essa decisão e esteja aderindo a uma forte onda conservadora e de extrema direita que tem atacado as pessoas trans em todo o mundo”, disse Leandro Colling, professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e pesquisador de diversidade sexual e de gênero.
Em agosto de 2023, o Plenário do STF reconheceu que atos ofensivos praticados contra pessoas da comunidade LGBTQIAPN+ podem ser enquadrados como injúria racial. A decisão foi tomada na sessão virtual concluída em agosto, no julgamento de recurso (embargos de declaração) apresentado pela Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (ABGLT) contra acórdão no Mandado de Injunção (MI) 4733.
“Os dirigentes do bloco irão fazer uma fiscalização das genitálias das pessoas para saber quem tem pênis ou vagina? Isso porque um homem trans pode performar uma masculinidade como a de qualquer outro homem cisgênero”, continuou Colling. Qualquer pessoa trans que se sentir ofendida com a decisão do afoxé está protegida pela medida do STF.
O jornalista Vinícius Nascimento, que sairá no bloco pela segunda vez, contou que a alegria de sair no desfile diminuiu e que só vai participar por causa do investimento que foi feito. “É uma decisão bizarra, e que esse estatuto precisa ser modernizado. O Gandhy é um bloco criado com o intuito de espalhar uma cultura de paz e decisões desse tipo vão na contramão desse princípio fundamental do bloco porque é de uma violência gigantesca”, afirmou.