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Manchas de óleo voltam a ser registradas no litoral da Bahia

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Manchas de óleo voltaram a aparecer no litoral da Bahia e acenderam o alerta entre os especialistas, mas a quantidade encontrada na areia é muito inferior àquela vista em 2019. Autoridades acreditam que pode se tratar do mesmo óleo, sendo partes que ficaram presas nos recifes e corais e que, agora, estão se desprendendo e chegando ao litoral. A Marinha está recolhendo as manchas e fazendo análises. O resultado sairá em 15 dias.  

Na capital, as manchas foram encontradas diversas praias. A Empresa de Limpeza Urbana de Salvador, informou que pequenos fragmentos de óleo foram localizados, na sexta-feira, nos trechos de Jaguaribe, Piatã, Farol de Itapuã, Stella Maris e Praia do Flamengo. Em nota, a prefeitura disse também que está monitorando a situação e que, nesta segunda, não houve registros no litoral e explicou como tem realizado o recolhimento.

“Para a retirada do material, as equipes seguem o protocolo determinado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, sendo o resíduo coletado, depois colocado em recipiente plástico para armazenamento temporário, com impermeabilização de solo, e posterior encaminhamento para unidade de análise e tratamento do material”, diz a nota.

Militares da Marinha estão recolhendo o óleo e levando para análise. A Capitania dos Portos recebeu a informação de aparecimento de pequenas bolinhas em Arembepe, no município de Camaçari, no dia 25 de agosto. Desde então, foram registrados casos em outras regiões da capital e do interior do estado. Em Porto Seguro, equipes municipais recolheram cerca de 100kg de óleo pastoso, em Arraial da Ajuda e Cumuruxatiba.

A Marinha informou, em nota, que está estudando o caso. “As pelotas serão analisadas quanto à sua idade e origem. A obtenção dos laudos de análise deve demorar cerca de 15 dias”, afirmou.

Segundo o biólogo e diretor do instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Francisco Kelmo, que esteve à frente da investigação sobre manchas de óleo em 2019, os rastros encontrados em Porto Seguro se trata ainda do petróleo disseminado há três anos. Ele explica que esse petróleo tem características especiais, como alta densidade, o que impede a flutuação na superfície e culmina na acomodação no fundo do mar. Quando há períodos de “ressaca”, os sedimentos aparecem. 

O reaparecimento ainda acende para efeitos que o desastre ambiental de 2019 perpetua até hoje. “Tivemos, na fase aguda, perda significativa da biodiversidade de invertebrados. Taxa de mortalidade alta […] acima de 70% quando comparado com período anterior. Observamos adoecimento de corais em proporção superior a 50%. A longo prazo temos observado que a biodiversidade ainda não se recuperou e nem está nem perto de retomar”, afirma. A estimativa é que impactos permaneçam por mais 10 anos.

Paisagem

Para moradores, banhistas e trabalhadores que dependem das atividades na praia e no mar, o reaparecimento de manchas traz de volta um pesadelo. Em 2019, o litoral do Nordeste foi atingido por uma onda de manchas de petróleo que picharam de preto as paisagens naturais dos nove estados da região. A poluição avançou em direção ao Sudeste e alcançou também Espírito Santo e Rio de Janeiro.

A balconista Alane Silva, 33 anos, adora uma praia e contou que ficou assustada. “Lembro que os jornais mostravam as manchas enormes nas areias e outras boiando no mar. A cada dia a quantidade aumentava mais e a gente não sabia o que fazer. Quando vi as notícias de que elas voltaram fiquei um pouco assustada. Será que vamos passar por aquilo tudo de novo?”, questionou.

O coordenador da Defesa Civil de Camaçari, Ivanaldo Soares, acredita que não há motivo para pânico. O município fica na Região Metropolitana e registrou a presença de óleo em três praias famosas. Começou na quinta passada, em Arembepe. Depois foi a vez de Guarajuba e, no último fim de semana, Itacimirim. Nos quatro dias, as equipes recolheram cerca de 100 kg do produto misturado com areia.

“São pequenas bolotas e em quantidade pequena. A gente acredita que se trata do mesmo óleo que chegou ao litoral em 2019, porque as características do material são as mesmas daquele encontrado há três anos. Elas estavam presas, mas com o mar revolto, elas se desprenderam e chegaram até a costa”, contou.

A prefeitura está monitorando a situação e orientando os banhistas a evitar contato com o material. A recomendação é acionar a Defesa Civil ou algum dos guarda-vidas de plantão nas praias. Em setembro de 2020, o engenheiro ambiental e de segurança do trabalho Alexandre Gennari, 40 anos, fundou o Coletivo Preserve Itacimirim, e com a ajuda de outros moradores desenvolve ações de cuidado com o meio ambiente. Ele não está no Brasil no momento, mas fez um apelo.

“A gente precisa de uma força tarefa para limpar e preservar a praia. O problema começou em 2019, um estudo da Ufba mostrou que o impacto foi enorme para a biodiversidade da região e, agora, essa reincidência preocupa. Isso é ruim para o turismo e para a economia local, além de ser ruim também para a natureza”, afirmou.

Apesar do incômodo, as manchas de óleo não alteraram a rotina dos banhistas e turistas. Na Praia do Forte e em Imbassaí, em Mata de São João, dois cartões postais da Bahia, também foram encontrados fragmentos. Por lá, a prefeitura recebeu denúncia na quarta-feira da semana passada. As equipes fizeram a inspeção, mas não encontraram o material. Testemunhas contaram para os agentes que viram bolinhas de óleo também na praia de Santo Antônio.  

“A equipe da Secretaria de Meio Ambiente encontrou hoje (29) pequenas bolotas entre Praia do Forte e Imbassaí, mas em quantidade que não assusta. Estamos atentos”, revela em a nota.

Procurada, a Cetrel, empresa responsável pelo fornecimento de água, tratamento e disposição final dos efluentes e resíduos do Polo Industrial de Camaçari, informou que não está acompanhando o aparecimento das manchas no litoral.

O Instituto do Meio Ambiente E Recursos Hídricos, e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, também foram procurados, porém até o momento não se manifestaram. A Secretaria do Meio Ambiente de Porto Seguro também não se pronunciou. 

Óleo em Madre de Deus e São Francisco do Conde é identificado

Nesta segunda (29), as prefeituras de Madre de Deus e São Francisco do Conde, na Região Metropolitana de Salvador, divulgaram uma nota conjunta afirmando que o óleo encontrado no litoral desses dois municípios, em julho, teve a origem identificada. O material é natural da Baía de Aratu. Petrobras e adquirentes dos ativos negociados na região foram cobradas para enviar, em caráter imediato, e no prazo de 72 horas, todos os estudos de análise de risco e planos de ações emergenciais existentes e já elaborados, inclusive planos de contingência e evacuação.

“Foi constatado ser óleo originário da bacia do Recôncavo. Isso reforça algumas suspeitas de tratar-se de produto originário das tubulações e equipamentos de exploração da Petrobras existentes na nossa região, sejam em operação ou lacrados, On Shore [atividades que acontecem no país de origem do proprietário] ou Off Shore [ação em terra estrangeira], não sabemos se privatizadas ou não pela companhia”, denuncia, ressaltando que, mesmo diante do espalhamento do óleo, as cidades não tiveram informações sobre ações preventivas ou de reparação. 

O presidente da Associação dos Pescadores e Marisqueiras de Madre de Deus e São Francisco do Conde, Zé Tunel, diz que até hoje há vestígios do óleo nos manguezais da região. “O pescador e principalmente a marisqueira, que vive exclusivamente do marisco, tiveram suas rendas prejudicadas e não vemos a Petrobras, nem responsáveis se posicionarem a querer ressarcir essa renda”, protesta. Zé salienta que são mais de 10 mil pescadores e marisqueiras com renda prejudicada devido ao aparecimento das manchas. “Estamos clamando por um ambiente limpo, é nossa única fonte de renda”, lamenta.

A fim de seguir o processo de apuração de eventuais irregularidades ambientais causadoras da contaminação, os municípios comunicam que irão aprofundar investigações e proceder com apuração de responsáveis e penalidade cabíveis na Justiça. 

A Petrobras foi procurada pela reportagem, mas até o fechamento da matéria não respondeu aos questionamentos. 

Óleo também reaparece em outros estados do Nordeste

Neste final de semana, manchas de óleo apareceram em praias de Ipojuca, em Pernambuco. Segundo o senador Jean Paul-Prates (PT-RN) as correntes estão intensas para norte, portanto, ele alerta que Paraíba e Rio Grande do Norte devem se preparar para a chegada dos resíduos nos próximos dias. A origem e causa ainda não foram confirmadas.

O Instituto Bioma Brasil afirmou ao jornal Folha de São Paulo que já houve registro do surgimento de manchas em cinco municípios do estado e instituições como Ibama, Marinha e a Agência Estadual de Meio Ambiente de Pernambuco foram acionadas e já recolheram amostras do óleo. 

O prefeito do Recife, João Campos (PSB), disse em uma rede social que os vestígios de óleo aparecem em menor quantidade do que em 2019, mas é preciso ficar alerta. 

Desde 2019, o óleo continuou aparecendo nas praias do nordeste brasileiro em episódios esporádicos. Em junho de 2020, Pernambuco já havia registrado fragmentos em praias, assim como Alagoas. Em agosto de 2021, borras de petróleo apareceram em Fernando de Noronha e em janeiro de 2022, seis praias cearenses registraram marcas de vestígios oleosos. 

Relembre maior desastre ambiental do litoral brasileiro, em 2019

Há três anos, em 2019, o Brasil via acontecer o maior desastre ambiental do litoral brasileiro. Manchas de óleo apareceram em todos estados do Nordeste, além de chegar no Rio de Janeiro e Espírito Santo. Foram mais de mil zonas atingidas, sendo 32 cidades baianas oleadas, segundo a Defesa Civil do Estado.

A primeira aparição dos rastros de petróleo aconteceu em 30 de agosto de 2019, em Conde e Pitimbu, na Paraíba. Na Bahia, o óleo chegou em outubro, em Mangue Seco, no norte do estado, e atingiu Salvador no dia 10 do mês. Ao longo das semanas, as manchas foram se espalhando por todo o litoral baiano e chegaram ao Parque de Abrolhos, em novembro. 

“Esse tipo de acidente nunca tinha acontecido aqui no Brasil. Normalmente, mancha de origem desconhecida, que é o caso dessa, são de pequeno impacto e abrangem só um estado. É a primeira vez que a gente está vendo um acidente, sem poluidor conhecido, atingir tantos estados”, explicou, na época, a coordenadora geral de Emergências Ambientais do Ibama, Fernanda Pirillo.

Ainda em 2019 a Bahia decretou situação de emergência para liberar recursos às cidades afetadas. O decreto foi reconhecido sumariamente, pelo Governo Federal. No mesmo dia, um grupo de cinco pessoas andou pela areia do Porto da Barra, um dos pontos turísticos da capital baiana, sujo de um óleo fictício – criado com café e maisena – para protestar.

Pescadores e marisqueiras de regiões afetadas protestaram sobre escassez de peixes após incidência do óleo. O presidente da Colônia de Pesca de Conde, no Litoral Norte, Givaldo Batista dos Santos, por exemplo, afirmou que o barco da colônia voltava “quase vazio” para a costa. Antes, em uma viagem de oito dias, pescadores da região chegavam a capturar 500 quilos de pescado, em 2019 e 2020, apenas 100 kg “na marra”. 

Em 2020, o Ibama informou que 459,49 toneladas do petróleo cru foram retiradas das praias baianas até fevereiro. Na capital, 14 praias foram atingidas, das quais foram retiradas 139,581 toneladas do óleo, segundo a Empresa de Limpeza Urbana de Salvador (Limpurb). A reportagem solicitou números atualizados, mas não recebeu retorno até o fechamento da matéria.  Uma operação da Polícia Federal foi deflagrada para identificar a origem do óleo na costa brasileira. A PF concluiu em 2021 que um navio petroleiro grego foi o responsável pelo derramamento da substância no mar. A empresa responsável não teve o nome revelado, mas os donos dela, o comandante e o chefe de máquinas do navio foram indiciados por crimes de poluição, descumprimento de obrigação ambiental e dano à unidade de conservação. A Marinha do Brasil diz que o óleo veio da Venezuela.

O que fazer caso tenha contato com óleo?

Enquanto em 2019 banhistas tiveram reações alérgicas ao entrar em contato com as manchas de petróleo nas praias, o biólogo Francisco Kelmo tranquiliza e dá sugestões sobre como reagir em caso de contato com o material. 

Se tiver contato com a pele:
1. Limpar bastante, passar água e óleo de bebê
2. Em caso que vá além de vermelhidão e leve coceira, procurar posto de saúde 

Atenção: já há três anos exposto, o perigo do óleo está na exposição contínua devido aos metais pesados. Porém, o nível de causar reação alérgica por contato rápido é baixo. 

Se encontrar óleo na praia: 
1. Não coletar por si só, o óleo ainda tem metais pesados e é tóxico
2. Chamar autoridades, como Ibama, Defesa Civil ou universidade, entidades com devidos equipamentos de proteção para manejo e descarte.

Fonte: Correio 24h

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