Marcelo Cabral fechou o cerco, auditou, apurou, comprovou e entregou nas mãos da justiça
Era uma tarde de terça, quando por um olhar rápido uma colaboradora se depara com o que a olho nu seria um erro de digitação na folha salarial da Santa Casa de Misericórdia de Valença. Preocupada ao ver a tradicional Folha de Retorno (documento que os bancos enviam a setores após creditarem valores em conta de funcionários), o diretor operacional da instituição é chamado e visualiza a ponta do que seria um dos maiores escândalos financeiros ocorridos na instituição filantrópica mais antiga da cidade.
O esquema, que foi refeito pela auditoria, em que, o acusado, Alessandro Libertador durante 15 anos realizou moderados e avançados desvios para creditar valores acima do salário acertado entre ele e a Santa Casa para sua conta salarial, foi descoberto e precisava de comprovações, que foram facilmente levantadas nas instituições bancárias que os arquivos eram enviados.
Ao descobrir o esquema, incrédulo, o advogado Marcelo Cabral, provedor da instituição, fez questão de emitir a justa causa do diretor do departamento de recursos humanos, que justificou estar passando por problemas financeiros.
O pós das ações realizadas desde 2010 por uma das figuras de confiança da instituição é a descoberta de mais de R$ 2 millhões de desvio, mesmo nas épocas em que a Santa Casa ameaçava fechamento e campanhas eram realizadas em prol de sua continuidade, além da fragilidade do momento em que salários ficaram atrasados ameaçando a corretude da Irmandade com o compromisso social.
Após todo o levantamento, foi na delegacia que os fatos se desdobraram fazendo com que o investigado, se tornasse foragido após não comparecer as audiências administrativa na sede da delegacia de polícia da cidade de Valença, no Baixo Sul da Bahia, sendo recentemente capturado no estado do Ceará e em translado para Bahia nos próximos dias para ser ouvido pela equipe da 5ª Coorpin. O que se sabe até agora, é que Alessandro confessa ter agido só em todos estes anos.
O provedor que define o ato como um dos mais covardes vistos em sua vida pública. “Jamais imaginávamos que algo como este ocorreria. Ele sabia de tudo que a Santa Casa passava, é decepcionante. Eu mesmo que de denunciei, não poderia ficar impune”, disse indignado Marcelo Cabral.
Sem parcerias
Antes mesmo da Polícia Civil apurar com mais profundidade o esquema, o provedor e o diretor alegam que apuraram diversas possibilidades de composição de uma quadrilha instalada no setor, mas o apontado agia de forma centralizadora, iniciando e finalizando a folha de pagamento e tendo acesso ao arquivo fim. “Nascia e morria nas mãos dele, ele centralizava, ninguém tinha acesso. Para nós, era o medo de perder o cargo que ele tinha, mas no fundo era a única forma dele acobertar os atos de desvio”, apontam.
Devolução
O acusado e confesso – para a direção da instituição, não possui bens que possam cobrir o rombo. Investigações apuram que os custos com viagens e investimentos simples, sem retorno, não cresceram os valores dos bens para uma prática oferta de pagamento.
Vigilância em alta
O diretor operacional, Marcos Antônio, informa que agora tudo estará sendo ainda mais monitorado e perpassará por três setores, para certeza do que está sendo investido na folha de pagamento. Segundo ele, a folha de retorno perpassa pelo gabinete da diretoria para uma checagem final e será auditada sempre.