Carlos Júnior não apenas tirou a vida de Helmarta Luz; ele arquitetou um crime que revela a face mais sombria do feminicídio. O uso dos halteres – pesos de academia – objeto da paixão e dedicação da moça para com o esporte e os treinos, carrega um simbolismo perverso. Ele não escolheu qualquer ferramenta para condená-la ao fundo do rio, numa mala – de certo com seus ossos quebrados – escolheu algo que representava sua identidade. Esse ato nos confronta com a cruel realidade de que a violência contra a mulher não se resume ao ato físico de matar, mas ao apagamento de quem ela foi em vida.
O feminicídio é um crime que nos obriga a refletir sobre a sociedade em que vivemos. Não se trata apenas de homens violentos, mas de uma cultura que permite e, de certo modo, encoraja o controle sobre os corpos femininos.
Helmarta não foi a primeira, e, tragicamente, não será a última vítima de uma masculinidade tóxica que coloca a dominação acima do respeito. Quando um homem mata uma mulher, ele não está apenas cometendo um assassinato; está dizendo que sua vontade vale mais do que a vida alheia.
Como homem, me pergunto: onde estamos nós nessa luta? É fácil condenar o ato de Carlos, chamá-lo de psicopata, mas difícil é enxergar que a transformação começa em cada um de nós. A luta contra o feminicídio não é apenas das mulheres; é nossa também. E não basta dizer que somos contra, precisamos agir. Precisamos questionar comportamentos, educar nossos filhos de forma diferente, e principalmente, não ser cúmplices do silêncio. Quando ignoramos, alimentamos o ciclo de violência.
Quando matamos uma mulher, assassinamos a essência que nos deu a vida. Afinal, só mulheres têm o poder de parir. Elas carregam em seus ventres o futuro da humanidade, e ao destruir esse corpo, destruímos também a esperança de um mundo melhor. Cada vida perdida é uma ferida aberta na sociedade, e essa cicatriz não fecha até que homens e mulheres se unam para proteger quem gera a vida.
A psicopatia de Carlos, como a de tantos outros, não é um surto repentino. É o resultado de uma sociedade que ensina homens a dominar, mas não a respeitar, por vontades feitas por papais e por mamães que querem ver os filhos machos sorrindo. É construído em pequenos atos, nas piadas, nas omissões, no medo de confrontar o machismo entre amigos. Quando um homem decide tirar a vida de uma mulher, ele reafirma seu suposto direito de controlar algo que nunca foi dele. E é por isso que precisamos mudar urgentemente essa narrativa.
É preciso dar voz às mulheres, garantir que suas histórias não sejam apagadas junto com suas vidas. É urgente que os homens se tornem aliados verdadeiros nessa causa. Não podemos mais nos esconder atrás do discurso fácil de que “não somos todos assim”. Não ser parte do problema não é suficiente. Precisamos ser parte da solução.
Se queremos de fato honrar a vida que as mulheres nos deram, se queremos respeitar a essência feminina que nos permitiu existir, devemos lutar. Devemos falar, agir e, sobretudo, nos comprometer com um mundo onde nenhum homem terá o poder de decidir sobre a vida de uma mulher.