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Entregador tem que subir ou não? Motoboy discute com cliente e viraliza ao desabafar sobre ‘exigência’

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O relato de um motoboy viralizou ao longo das últimas horas nas redes sociais e reacende um antigo debate a respeito das dinâmicas de entrega por delivery no Brasil. Thyago Mendes, 20, contou ter sido xingado de “vagabundo” por um cliente que exigia dele subir até o apartamento em que estava para completar uma entrega. O rapaz alegou que ir até a porta do apartamento não é uma obrigação da categoria. Então, entregador tem que subir ou não até o apartamento do cliente?

Em vídeo que já ultrapassa as 150 mil visualizações, Thyago mostra o instante em que o cliente desce do prédio para falar com ele. O homem está visivelmente irritado e, com a voz alterada, repete que o motoboy “tem que fazer o serviço completo”. O jovem rebate de maneira contínua até que o rapaz vai embora com a comida, revoltado. O caso ocorreu em São Luís (MA) e o relato de Thyago foi publicado nesse domingo (19).

“Não, senhor. Você tem que fazer o seu serviço completo”, reclama o consumidor. “Meu irmão, você é obrigado a fazer o seu serviço. Deixar na frente do bloco. Isso é serviço seu”, continua. Ele segue argumentando e chega a contatar o estabelecimento comercial em que Thyago trabalha, por telefone, para dizer que eles perderam um cliente.

Reclamação constante
O motoboy conta que já teve problemas parecidos com o mesmo consumidor. Segundo ele, o condomínio em questão, no Jardim Eldorado, não permite que motoboys entrem com o veículo para entregar comida. Ele precisaria deixar a moto ali mesmo e andar com o pedido até o bloco do homem, o que dificulta a dinâmica do trabalho.

“Das outras vezes que eu levei até o bloco, ele não quis descer para buscar. Ele quer que o motoboy suba lá, no apartamento dele, que é no décimo andar. No caso, ele manda o porteiro liberar a porta pra ir até o bloco, mas não desce. Aí o motoboy fica lá esperando e, pra liberar os outros pedidos, acaba subindo. Mas dessa vez eu disse que não subiria”, recorda Thyago.

De acordo com o motociclista, o rapaz já é cliente assíduo do restaurante japonês em que ele trabalha fazendo entregas. Como esperava uma reação revoltada, decidiu gravar a discussão e publicar nas redes sociais. Para ele, é importante compartilhar os “perrengues” que a classe profissional enfrenta diariamente. O que parece uma situação incomum é, na verdade, uma reclamação frequente de trabalhadores como Thyago.

“Sempre posto no Instagram pra verem que o trabalho não é só só pegar a entrega e deixar. Eu só peço que as pessoas comecem a valorizar mais, e tenham mais consciência das coisas. Acontece direto”, destaca o jovem, que já trabalha como entregador há um ano e comprou a motocicleta exclusivamente para isso.

‘Quer que eu suba no 10º andar’
Também por meio das redes sociais, o jovem completou o desabafo. “Sou o motoboy do vídeo, vou explicar direitinho aqui pra vocês o que aconteceu! Nesse condomínio que costumo fazer entrega o motoboy não pode subir com o seu veículo, só pode entrar andando!”, começou nos stories do Instagram.

“Primeiro que aí já está o erro, pois eu estou deixando meu material de trabalho, que é a moto, sujeito a roubo. E até porque se roubarem meu veículo, nem estabelecimento, condomínio e nem o cliente irão se responsabilizar. Pois esse cliente, ele costuma pedir toda semana. Toda vez eu levo até o bloco dele. Só que ele não quer descer o bloco! Ele sempre quer que eu vá andando até o bloco e ainda suba o décimo andar do apartamento dele”, publicou o jovem”, acrescentou.

Em seguida, Thyago agradeceu aos perfis que estão compartilhando seu relato. “Assim, algumas pessoas começam a se conscientizar e parar de menosprezar o trabalho das pessoas!”, exclamou. Thyago compartilhou o desabafo inicialmente em seu próprio perfil, mas o Instagram derrubou o vídeo. Mesmo assim, o registro acabou viralizando por meio de uma página na rede social.

E então: é obrigado a subir?
Segundo Edgar da Silva, presidente da Amabr (Associação dos Motofretistas de Aplicativos e Autônomos do Brasil), não há lei que obrigue os entregadores a subirem até o apartamento do cliente. Motofretista há 21 anos, ele compara o trabalho de delivery ao de um carteiro, que “leva [a entrega] de um endereço ao outro”. Sendo assim, a exigência é descabida e muitas vezes prejudica o profissional.

“O motoboy já ganha pouco. Aí se ele para a moto, deixa na rua, corre o risco de ela ser roubada com outras mercadorias dentro. Ele vai subir, de andar por andar. Às vezes tem várias entregas no mesmo prédio. Tudo isso aí, ele já perdeu uma noite. Não pagou nem a gasolina, já que costuma ganhar por entrega”, explica o líder da associação.

Ainda de acordo com Edgar, é preciso considerar o regimento de cada prédio e condomínio, já que alguns nem permitem a entrada. Ele destaca que, algum tempo atrás, era comum ficar sabendo de episódios criminosos envolvendo falsos entregadores. Para evitar esses impasses, a melhor solução é utilizar o bom senso e ter empatia com a realidade dos profissionais de delivery.

Conforme Thyago, os direitos do motociclista que trabalha com delivery estão dispostos na Lei nº 7109, que entrou em vigor em 2015 no Rio de Janeiro. Não existe, no entanto, uma lei nacional que verse sobre o tema.

Os perigos da exposição
Sobre a entrega de mercadorias, o presidente da Amabr frisa que existe uma regulamentação universal. A Lei 12.009/09 determina, por exemplo, que os profissionais tenham habilitação de ao menos dois anos e sejam aprovados em curso especializado. Mesmo nos aplicativos de delivery, onde o consumidor tem a opção de escolher a forma de entrega, os entregadores podem optar por não irem até o apartamento.

“Da mesma forma, ele [motoboy] chegou no endereço. A obrigação da pessoa é estar lá, para receber na porta, até mesmo pela segurança dela. Se ela está doente, tem alguma deficiência e não avisou, aí é diferente. Existem esses casos em que não tem porteiro, não tem nada. Aí, o profissional pode abrir exceções. Mas não existe nenhuma obrigação”, destaca Edgar.

“Já aconteceram vários casos em que o entregador sobe e, quando volta, levaram a moto dele. Ou às vezes a moto dele tem mais entrega e acabam levando. Acaba sendo um problema dele, responsabilidade dele. Como ele vai explicar pro estabelecimento? A empresa não vai querer cuidar pelo descuido dele”, conclui.

Ainda na manhã de hoje (20), Thyago voltou a desabafar por meio da internet. O entregador reuniu colegas de profissão e se dirigiu até o condomínio onde discutiu com o cliente, na noite de ontem.

“Viemos aqui no condomínio, chamei a galera pra gente fazer uma manifestação civilizada. Queremos apenas o respeito, a consciência das pessoas, a valorização tanto do cliente, do estabelecimento e do condomínio também”, disse em vídeo. Nos stories do jovem, é possível ver uma concentração de motoboys buzinando.

(Reprodução/@thyagomendes_/Instagram)

Fonte: BHAZ

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