Especialistas alertam que bloqueadores de sinal, como o utilizado recentemente para silenciar uma caixa de som numa praia brasileira, podem interferir no funcionamento de marca-passos e equipamentos médicos.
O cirurgião cardiovascular Edmo Atique Gabriel explica que os marca-passos, feitos de titânio e programados para emitir ondas eletromagnéticas, podem sofrer interferência direta de bloqueadores. “Quando isso acontece, o marca-passo pode ser desprogramado, levando a batimentos cardíacos descontrolados, com riscos como desmaios, quedas ou até emergências mais graves”, diz.
O médico orienta que pacientes fiquem atentos a sinais como tontura, escurecimento da visão, falta de ar e sensação de desmaio. “Esses sintomas indicam que o dispositivo pode não estar funcionando corretamente devido à interferência, e o paciente deve procurar ajuda médica imediatamente”, reforça.
Não há uma distância completamente segura entre bloqueadores e pacientes com marca-passo, mas manter mais de um metro é recomendado. Segundo o cirurgião, a proximidade aumenta significativamente o risco de interferência, especialmente em áreas onde o bloqueador opera com intensidade maior. “O interessante seria evitar qualquer proximidade, mas com menos de um metro os efeitos negativos são praticamente certos”, acrescenta.
Bloqueador de sinal, também chamado de jammer, emite interferência eletromagnética. A ideia é desorganizar ou interromper comunicações sem fio em uma determinada área. Ele funciona sobrepondo ou saturando as frequências utilizadas por tecnologias como Wi-Fi, Bluetooth, GPS, redes celulares e outros sistemas de radiocomunicação. Isso impede que dispositivos próximos estabeleçam ou mantenham conexões, resultando em falhas de comunicação.
Professora do Inatel (Instituto Nacional de Telecomunicações), Vanessa Rennó alerta que bloqueadores geram campos eletromagnéticos intensos, capazes de causar falhas nesses equipamentos, especialmente em ambientes hospitalares. “Esses campos interferem no funcionamento normal, causando interrupções críticas em sistemas que dependem de comunicação estável, como sensores cardíacos e monitores”, explica.
Rennó detalha que ventiladores mecânicos, monitores cardíacos e bombas de infusão são altamente dependentes de redes sem fio para operar com precisão. “Uma interrupção pode atrasar diagnósticos e procedimentos, aumentando os riscos de complicações para os pacientes”, alerta a especialista.
“Isso não apenas desconecta acessórios, mas pode inviabilizar sensores médicos que monitoram condições críticas em tempo real”, acrescenta. A especialista ainda destaca que tecnologias modernas, como a telemetria, podem mapear as faixas de frequência mais suscetíveis a interferências, mas não anulam completamente os riscos.
Modelos mais recentes de marca-passos e outros dispositivos são projetados para minimizar os efeitos de campos eletromagnéticos, segundo o cirurgião cardiovascular. “Mesmo assim, a cautela continua sendo essencial, especialmente em ambientes onde bloqueadores podem estar em uso”, conclui.
Rennó ressalta que interferências podem impedir chamadas para o 190 ou desorientar ambulâncias que dependem de GPS. “Em eventos de grande porte ou situações de crise, a interrupção de comunicações pode criar um caos ainda maior, dificultando evacuações ou resgates”, afirma.
O uso de um bloqueador de sinal em uma praia brasileira gerou polêmica e repercussão nas redes sociais. O incidente envolveu um turista estrangeiro que utilizou o dispositivo para silenciar uma caixa de som Bluetooth que tocava música em alto volume. O vídeo, com 12 segundos de duração, foi compartilhado pelo argentino Roni Bandini e mostrou o momento em que o som foi interrompido.
Bandini, que afirmou ser o criador do equipamento, não divulgou a localização exata do ocorrido. Ele relatou ter passado por cidades como Salvador e Fortaleza durante sua viagem ao Brasil. O dispositivo usado no episódio, batizado de Pocket Gone, foi projetado para interferir em conexões Bluetooth.